O Congresso Brasileiro de Política, Planejamento e Gestão em Saúde, que será realizado em Fortaleza, Ceará, de 03 a 06 de novembro de 2024, prestará homenagem a importantes movimentos sociais do estado. As salas onde ocorrerão as atividades do evento receberão nomes que reconhecem a contribuição histórica desses movimentos para a luta por direitos e justiça social no Ceará.
Para Carmem Leitão, presidente do Congresso, a escolha dos nomes das salas foi uma etapa que trouxe um bom debate para a Comissão Local. “Sendo incontáveis as pessoas relevantes na trajetória da Saúde Coletiva cearense, e de constituição do SUS em nosso estado, quem homenagear? Com esta questão em pauta, e com o tema do congresso em mente, chegamos à decisão de homenagear coletivos. Assim, buscamos elencar inúmeros coletivos que representam esforços múltiplos para a defesa da vida, da justiça social e do SUS”, afirma.
Confira os nomes das salas:
Teia dos Povos do Ceará
É uma articulação de comunidades quilombolas, indígenas, coletivos urbanos e rurais que visa fortalecer a luta pela soberania dos territórios, trabalho e bem viver. Fundada em 2022, durante a I Assembleia na Aldeia Jacinto, a Teia reúne movimentos como o Quilombo do Cumbe e a Brigada Che Guevera (MST), atuando em prol da autonomia e da independência das instituições do Estado, com foco na solidariedade e na defesa dos direitos dos povos tradicionais.
APOINME
A Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME) é uma organização criada em 1990, que atua na defesa dos direitos indígenas e da regularização de seus territórios. Com presença em 10 estados e abrangendo cerca de 70 povos indígenas, a APOINME luta contra a exploração de terras e recursos naturais, enquanto promove a resistência indígena e o fortalecimento das mulheres indígenas em lideranças. No Ceará, a organização envolve 49 terras indígenas, onde vivem etnias como os Anacé, Tremembé e Potyguara.
MST Ceará
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) atua no Ceará desde 1989, quando realizou sua primeira ocupação de terra, que resultou no Assentamento 25 de Maio. Presente em 60 municípios, o MST é uma força na luta pela Reforma Agrária, organizando trabalhadores rurais e promovendo a criação de escolas, cooperativas, agroindústrias e rádios comunitárias. Além disso, o movimento investe na formação acadêmica de jovens assentados, por meio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), consolidando sua presença em mais de 200 assentamentos no estado.
Rede de Mulheres Negras do Ceará
Fundada em 2018, a Rede de Mulheres Negras do Ceará (REDE) surgiu para unir e fortalecer o ativismo de mulheres negras contra o racismo, o sexismo e o capitalismo. Inspirada pelo Instituto Negra do Ceará (Inegra), a Rede atua em regiões como Cariri, Ibiapaba e Fortaleza, promovendo ações que defendem os direitos humanos e a justiça racial.
Espaço Ekobé
Criado em 2005, o Espaço Ekobé é um coletivo vinculado à Universidade Estadual do Ceará (UECE) e à Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde (ANEPS). Situado no campus do Itaperi, o espaço promove ações de cuidado e formação em educação popular e práticas integrativas de saúde, sempre em defesa do SUS e do Bem Viver. O Ekobé também participa ativamente de eventos na área da saúde, como as Tendas Paulo Freire, espaços de diálogo sobre saberes e práticas populares em saúde.
Movimento de Saúde Mental do Bom Jardim
Fundado em 1996, o Movimento de Saúde Mental do Bom Jardim atua nas comunidades vulneráveis de Fortaleza, oferecendo acolhimento e escuta, com base na Abordagem Sistêmica Comunitária. Originado das Comunidades Eclesiais de Base e dos Missionários Combonianos, o movimento desenvolve projetos como a Escola de Gastronomia Autossustentável e o Programa “Sim à Vida”, além de atividades de resgate da cultura indígena, especialmente com os Pitaguary. Em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, o MSM também criou o Centro de Atenção Psicossocial Comunitário do Bom Jardim.
Projeto 4 Varas: Terapia Comunitária Integrativa
O Projeto 4 Varas surgiu nos anos 1980 no Pirambu, periferia de Fortaleza, através da iniciativa do advogado Airton Barreto e do psiquiatra Adalberto Barreto. Inspirado na lenda das quatro varas, o projeto se consolidou como um modelo interdisciplinar de acolhimento, voltado ao cuidado do sofrimento humano com foco na terapia comunitária integrativa. Hoje, reconhecido pelo SUS e presente em 27 países, o 4 Varas valoriza saberes tradicionais e a autonomia comunitária, promovendo saúde mental por meio da partilha de experiências e práticas como o uso de ervas medicinais.
Escambo Popular Livre de Rua
O Movimento Escambo Popular Livre de Rua, fundado em 1991 por Ray Lima e Junio Santos na Cidade de Janduís/RN, é uma iniciativa cultural que une teatro, cultura popular e luta por direitos sociais e humanos. Com forte atuação no Nordeste, o Escambo reúne artistas de diversas áreas e estados, promovendo um intercâmbio criativo e político por meio de “artes públicas de rua”. O movimento impacta significativamente a dramaturgia local e a educação popular em saúde, destacando-se em cidades como Icapuí, Fortaleza e Maranguape. Com eventos como a “Ciranda de Arte na Escola Pública – Teatro de Rua”, o Escambo se firmou como um espaço dinâmico de construção coletiva de saberes e resistência cultural.
Movimento 21 de Abril (M21)
O Movimento 21 de Abril (M21) é uma articulação de movimentos e entidades do campo e da cidade, criada em 2010 em memória do líder ambiental Zé Maria do Tomé, assassinado na Chapada do Apodi, em Limoeiro do Norte, Ceará. Com foco na região do Vale do Jaguaribe, o M21 reúne lutadores e lutadoras em defesa dos direitos humanos e ambientais, construindo sua base a partir de pesquisas participativas iniciadas em 2007 pelo Núcleo Tramas, da Universidade Federal do Ceará. Desde sua fundação, o movimento atua no enfrentamento de conflitos ambientais e na denúncia dos impactos dos agrotóxicos na saúde e no meio ambiente.
Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC)
Com mais de 23 anos de trajetória, o Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC) é um movimento negro pioneiro no interior cearense, que atua em rede e estabelece diálogos com diversos movimentos sociais, como Quilombolas, Indígenas, e População LGBTTQIAP+. O GRUNEC compreende o racismo como um problema estrutural, promovendo ações como a Caminhada contra a Intolerância Religiosa e a Marcha Regional de Mulheres Negras do Cariri, que denunciam formas de discriminação.
Grupo de Resistência Asa Branca (GRAB)
O Grupo de Resistência Asa Branca (GRAB) é uma ONG sem fins lucrativos, fundada em Fortaleza, Ceará, em 17 de março de 1989. Com 35 anos de atuação, o GRAB defende os direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexo (LGBTI+) nas áreas de Cultura, Saúde e Educação. Inicialmente focado na luta contra a violência e discriminação, o grupo ampliou sua atuação para o enfrentamento da AIDS, priorizando o apoio a pessoas vivendo com HIV/Aids. Sua missão é melhorar a qualidade de vida da população LGBTI+, promovendo ativismo, cidadania e direitos humanos.
Movimento #EU DEFENDO O SUS
O Movimento #EU DEFENDO O SUS foi criado em 2016, em Fortaleza, Ceará, como uma resposta ao golpe contra a Presidenta Dilma Rousseff e ao desfinanciamento do SUS pelo Governo Michel Temer, marcado pela Emenda Constitucional 95. O movimento reúne mulheres, trabalhadoras e ativistas da saúde, com o objetivo de mobilizar a população em defesa da saúde como um direito do povo e um dever do Estado, conforme a Constituição Federal de 1988. Utilizando redes sociais, o movimento busca fortalecer a democracia e a defesa radical do SUS frente aos ataques aos direitos à saúde no Brasil.
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